sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Classificando O Que Me Resta

“E’ bom estar de volta, ainda que aos pedacos. Nos resta agora descobrir quais sao os pedacos que me restam.”

Encerrei minha vida de celulose aqui nesta frase, frente a esse abismo que e’ olhar para dentro. E como foi assustador olhar para dentro de mim. Descobri que me faltam muito mais pedacos do que aqueles que me restaram, mas em uma rapida analise, conclui que talvez eles nunca estiveram aqui.
Me falta, por exemplo, uma generosa parcela de compaixao. E acho que talvez isso que tenho aqui por tras do meu mediastino nao e’ um coracao. Acho que falta bom senso ao meu estomago que implora por cerveja ja’ as 5:00 da manha e a minha boceta, que faz todo o possivel para que eu ignore todo e qualquer protocolo pre-estabelecido. Me sobra amor por gatos, principalmente pelos meus seis. Eles sao mais sexies em toda sua gloria irracional que eu jamais serei caso tenha uma longa vida, me dao quase tesao. E uma puta inveja daquela coluna. Me sobra medo. Medo de tudo, de cair e perder mais ossos, de me embreagar longe de casa, de morrer de cancer no pulmao, de desenvolver uma queloide em minha proxima tatuagem, de comer carne vermelha demais e somar mais karmas a minha extensa divida, de borboletas de todas as cores e formatos (principalmente daquelas que estalam na primavera).  Medo de escrever.
Agora tenho um noivo, sabe. Um santo homem, que acha bonitinha ate a mais esduxula das minhas perversoes, e seu unico porem nesse aglomerado escroto de caretas e repudio que sou eu, e’ que, segundo ele, minhas tatuagens deveriam ser maiores. Haha. Ele nao ouve nem Beethoven nem Liszt, mas curteLed Zeppelin, o que para mim e minha nova vida, basta.  E nessa minha nova vida, descobri que sou uma pessima dona de casa, apenas cozinho carne (que foi a unica coisa que comi nos ultimos 24 anos, junto com leite e cerveja), e amo plantas. Estou inclusive me aventurando em um herbario. Tudo bem, quase todas as ervas morreram com excessao da menta e da salvia vermelha, e minhas roseiras estao resistindo bravamente. Mas o chifre-de-veado e o jasmim-manga triunfam magnanimos em minha varanda (alias, em minhas andancas descobri que o jasmim-manga e’ comumente confundido com a dama-da-noite, e foi trazido ao Brasil por Burle Marx).
Tambem tenho medo de me tornar uma monotona burocrata do ramo petroleiro, enlouquecer e cometer um assassinato em massa, em pleno Largo da Carioca ao meio-dia.
Darei noticias sobre os proximos pedacos descobertos e investigados.


*Desculpo-me pela falta de acentuacao, porem o computador e' gringo e ainda nao descobri com endireitar essa belezinha.

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