quarta-feira, 28 de março de 2018

"Mornings are for coffee and contemplation", said once sheriff Hoper. E eu sempre concordei com o parafraseado, apesar de somente tê-lo descoberto recentemente.
Estava à completa mercê do clichê, com uma xícara fumegante de café na mão direita, cigarro na esquerda, contemplando o sentido do todo nesta Terra, quando então num lento piscar de minha terceira pálpebra, o Universo, muito didaticamente, dá-me respostas como quem dá tapas na cara. Não, too clasyfor my little existance. Como quem dá jabs no estômago. Mas as respostas mostram-se tão ricamente ilustradas, com requintes de uma luz delicada, nacarada, de beleza precisa, numa plasticidade de movimentos e crudeza de significado que o primeiro segundo de entendimento foi uma epifania fria, chocada. Epifania cartesiana.
Contra o verde que se estica em matizes não reproduzíves, um par de grandes asas azuis-céu, asas quase etéreas, sobrevoava poeticamente o meu manjericão em plena florescência. Enquanto eu cerebralmente me dividia entre por nada nesse mundo perder um segundo que fosse daquela beleza de pintura e as frenéticas sinapses apavoradas pela motefobia, um Tiê-sangue entra na indizível tela de acontecimentos. Insensível ao belo - ele mesmo signo vermelho vivo brilhante de beleza - predador assertivo, parte certeiro para a enorme borboleta azul-céu. Tudo tão, tão bonito! O balé da borboleta contra a brisa da Mantiqueira, os verdes todos ali, se esticando e misturando até um azul-verde-acinzentado das Agulhas Negras lá no alto, uma luz como que difusa por entre as brumas que já se dissipavam, uma flecha vermelho-sangue, viva e faminta, uma boca vermelha de morte. Tudo tão tão bonito!
E pela sagrada Lei da Analogia, eu entendi.
Alguém disse que somos o inferno de um outro mundo. Outro alguém disse que encontramo-nos em um orbe de expiação. Vida e morte do denso. Do ciclo. Do micro ao macro, assim na Terra como nos Céus, em todas as possibilidades da ordem a partir do caos. Mas é tudo de uma beleza!
* * *
Para o querido leitor cético, ateu, ocupado demais com questões mais sérias, arrependido de ter lido essa crônica até o final... você tem o seu ponto. Mas eu sempre cri que a verdade está mais nítida e acessível pela manhã, talvez como o prana na atmosfera. E isso, a mim, basta.
* * *
Ainda analiso que como um meta-episódio de uma história em quadrinhos qualquer, nós, homo sapien sapiens (aquele que 'sabe que sabe') - eu, observadora da cena incluída na própria - estamos sempre muito imersos em todas as nossas pequenezas dentro do universo insondável de nós - minha motefobia em pé-de-igualdade com minha eterna devoção ao belo - enquanto que o Todo passa ao largo, à volta, em frente...tão tão maior que nós em nossa imensa e mesquinha beleza de universo diminuto. Na distração, o que importa passa, as armadilhas famintas do ego a tudo comem e regurgitam.
* * *
Este foi um texto de fé.

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Cap I:

He rushed in like a hurricane. He had this thing in his eyes. This thing always caught her; it was like magnetic-organic to her, some reaction in a subatomic level deep in her cells, some morphogenetic condition. It was instinct. Despite the violence in his walk, the thing in his eyes was brigther today. His right hand was severly hurted, bleeding. He had deffinatley punched someone. And savored the process with pure joy, she concluded.

_Let me help you with this.
_It is nothing.
_It’s nothig but my job to take care of it.
_I am fine. I told you, it is nothing.
_I’m not asking anymore. You are the bad cop, I got it. I’m not beeing nice with you, don’t need to get all allergic. Your hand is covered in blood and dirt, it will be infected in 3 hours and as far as I know, you are right handed. I am cleaning this.

She finnished the sentence grabbing his hand, the left one, and put the right one under water. It was ugly, really. ‘The other guy is probably a hamburger now’ she thought. If she knew him well enough, the first punch was in the middle of the chin, to disorientate the opponent. To make a statement. He wasn’t subtle when it comes to be about his job. He is sheriff, so people expects of him some…things, and posture. In addition, to keep his position, he should play his part. The truth is it was not some vulgar violent male-tale. He was bigger than that. He was classic. He act classically, and it worked well. So far so good.

Now she noticed that his left hand was hurted too. The knot fingers were pealed-off. So after the first punch – that was for sure a phenomenal thing to watch, brutal enough to make the poor thing/other guy past out for a few seconds, Neil lifted the guy up, probably by the jeans jacket he must be wearing. That should be burning like hell. Then came the forehead right in the nose, as the bleeding point in the middle of his eyebrows indicated. Nevertheless, his right hand, was really, really fucked up. Minced meat with bones, miraculously whole bones. Maybe four, five heavy jabs in the face of his opponent. He used to have this ridiculous micro-skull tattoo on his hand that certainly wouldn’t survive to the new scar. Nothing else was ridiculous about that man. It’s funny, he hadn’t the obvious beauty, hadn’t symmetry, wasn’t a beautiful warmth smile, perfect teeth or blue eyes. However, when the pieces were together, his constantly frown, the mid-long dark brown hair that blends with the honey brown beard in a sort of mane, the deep-shadowed eyes, lips that were indescribable and serious. A physical constitution of a soldier, a strong skilled soldier. He was actually a veteran, but they never trade a word about that. They barely spoke… they used words to each other carefully, because when the sound of his voice were heard, or hers, it was pure synesthesia. Listening to the sound of that voice initiated a chain of events in both bodies, hard to bare, almost impossible to stop.

Their relationship were based on this tacit agreement, it seemed. They looked each other several times a day, more with the intention of knowing that his/hers satellite was there. No exchanging glances. In their voiceless, wordless agreement, no cliché romance allowed. Neil was severe, in all aspects of his personality, at least that’s what she perceived of him. And she was an excellent observer, an essential part of her talent for read people, an essential part of their relationship. She used to be gorgeous, years back, when in the old Earth. Now she was too tired, with the soul too old, with too many problems to solve. Everything was there, resisting to the tough years, the beautiful black silk hair, the honey green eyes with small brown dots, those succulent tights, like ripe fruits, the strawberry lips, the freckles against the porcelain skin. But the years were cruel to everyone, hardened her character, and she eventually lost her exuberance. Well, not for him. He could admire her for hours, all of her movements were gracious. He loved to observe her muscles responding to her elegant and fierce walk, as if there were an inaudible song guiding her legs and hips. She was his everyday damnation, fuck. So impossible to deal with. Back in the days, when he hadn’t that much of weight on him, things would be different between them - he said that mentally every fucking time she appeared with that baby-blue dress. Or every time she was simply brilliant, which happened a lot. He began to feel in his bones he needed to fix things with Cali. Urgently. Fuck the Ragnarök. She finnished the first aids, her delicate hands made him feel nothing. The touching was unbearable. Was all about the eyes, between them. But things would change now.


(in progress)

sábado, 19 de agosto de 2017

Pensava na estupidez de escolher uma lingerie de renda maravilhosamente desconfortável, apenas para se despir e passar as próximas horas estática, reclamando mentalmente que seu retrato acabaria com as marcas da renda estampadas em seus quadris.

Pensava na estupidez de ter meticulosamente deliberado acerca da lingerie, da combinação de texturas entre a fina renda de seu soutien e a rudeza do linho cru de seu vestido.

Pensava na estupidez de se envolver em rituais para se apresentar a um homem que mal conhecia, cujo interesse se limitava na observação dos matizes das veias sob a sua pele, do jogo da luz e da sombra nos côncavos e convexos do seu corpo, na plasticidade da sua casca.


Enquanto catalogava cada decisão estúpida em seus arquivos cerebrais, chegou ao hall do prédio estéril que guardava o estúdio do pintor. No momento em que leu o anúncio, solicitando uma voluntária para posar por 4 horas, pareceu uma ótima ideia: eu vou ficar nua em um estúdio de pintura de um potencialmente interessante espécime masculino, o que pode dar errado, certo? Certo. Mas agora estava ali, com a calcinha meticulosamente escolhida. Renda. E o soutien também. Desperdiçar 3 horas de banho, óleos, perfume, carmim e lábios delineados? Não era uma opção minimamente viável. Perguntava-se por onde andava aquele tesão que sentia por experimentações vazias de significados filosóficos, aquele frio na barriga que intumescia os mamilos e arrepiava os pelos das coxas e enrubescia as bochechas. Perdida (invariavelmente) em seus devaneios, encontrou o que procurava quando a porta do estúdio se abriu. O tal pintor em nada se parecia com as fotos que havia visto. Na verdade,
agora as fotos que vira dele pareciam caricaturas de mal gosto. Alto, o suficiente para ter de elevar os olhos, mas sem que seu pescoço doesse. Magro, mas notava-se músculos vigorosos cobertos pela malha velha de uma camiseta do John Paul Jones. Olhos atentos, sagazes, despudoradamente sagazes, boca macia (ela se deteve por um segundo a mais em seus lábios -macios, ao que responderam com um sorriso-de-canto-de-boca pornográfico) contornada pela barba cheia e bem aparada. Somente agora reparava que por sobre os olhos sagazes vestia óculos, e neles via o reflexo de uma mulher altamente desejável, curvas generosas sem nenhum compromisso com a perfeição, um vestido de linho cru que dava aos observadores um vislumbre de renda a contornar um seio, umas ancas largas, uma cintura que convidava uma mão a um descanso. E a um passeio.

O pintor abriu um sorriso sincero, convidou-a a entrar, ofereceu um café, um baseado, um whisky. Ela aceitou os dois primeiros, respirou fundo de olhos fechados por milissegundos e pensou "sim". Passado o relaxamento subsequente ao THC agindo em seu sistema nervoso, sorriu. O pintor explicava calmamente como seriam as próximas horas, que ela poderia pausar a sessão sempre que necessário, que não havia pressa e seu tempo seria respeitado. Nada, nada de muito relevante além daquela voz de trovão rouco, baixa, grave, melodiosa. Aquela voz sim, merecia toda a atenção que seu cérebro pudesse dar. Ele ainda falava enquanto organizava seu cavalete e tintas. Ela notou suas mãos. Dedos compridos, duas tatuagens ininteligíveis, mãos enormes. Assinalou mentalmente que elas caberiam em sua cintura, e que seus seios caberiam nelas.
Ele disse qualquer coisa sobre as formas femininas e sua poesia, e lançou um olhar as suas pernas (agora cruzadas). Não era um olhar de fome, não era o olhar sacana que ele dirigira aos seus olhos. Não, era veneração. Era adoração pela forma, pela reação da pele à luz da manhã que banhava a sala do estúdio, refratada nos salpicos loiros dos seus pelinhos. Ela via a poesia da qual o pintor lhe falara. Via ali, naqueles olhos despudorados que agora a devoravam como uma boca faminta, poesia de carne e pele. Sentiu-se tomada de beleza e comoção. Seus cílios agora batiam como asas de uma borboleta preguiçosa, seu sangue pulsava quente, caudaloso, seu vestido se tornara um véu, o véu que embala em frisson a antecipação da visão. Ela lembrou-se de uma fala, em uma revista em quadrinhos: - he was savoring the meal to come. Percebeu que ele respirou para se recompor daquela epifania compartilhada, reuniu toda a gentileza cabida naquela voz de homem e perguntou aquilo que o momento passado já havia respondido: - você está pronta?

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Classificando O Que Me Resta

“E’ bom estar de volta, ainda que aos pedacos. Nos resta agora descobrir quais sao os pedacos que me restam.”

Encerrei minha vida de celulose aqui nesta frase, frente a esse abismo que e’ olhar para dentro. E como foi assustador olhar para dentro de mim. Descobri que me faltam muito mais pedacos do que aqueles que me restaram, mas em uma rapida analise, conclui que talvez eles nunca estiveram aqui.
Me falta, por exemplo, uma generosa parcela de compaixao. E acho que talvez isso que tenho aqui por tras do meu mediastino nao e’ um coracao. Acho que falta bom senso ao meu estomago que implora por cerveja ja’ as 5:00 da manha e a minha boceta, que faz todo o possivel para que eu ignore todo e qualquer protocolo pre-estabelecido. Me sobra amor por gatos, principalmente pelos meus seis. Eles sao mais sexies em toda sua gloria irracional que eu jamais serei caso tenha uma longa vida, me dao quase tesao. E uma puta inveja daquela coluna. Me sobra medo. Medo de tudo, de cair e perder mais ossos, de me embreagar longe de casa, de morrer de cancer no pulmao, de desenvolver uma queloide em minha proxima tatuagem, de comer carne vermelha demais e somar mais karmas a minha extensa divida, de borboletas de todas as cores e formatos (principalmente daquelas que estalam na primavera).  Medo de escrever.
Agora tenho um noivo, sabe. Um santo homem, que acha bonitinha ate a mais esduxula das minhas perversoes, e seu unico porem nesse aglomerado escroto de caretas e repudio que sou eu, e’ que, segundo ele, minhas tatuagens deveriam ser maiores. Haha. Ele nao ouve nem Beethoven nem Liszt, mas curteLed Zeppelin, o que para mim e minha nova vida, basta.  E nessa minha nova vida, descobri que sou uma pessima dona de casa, apenas cozinho carne (que foi a unica coisa que comi nos ultimos 24 anos, junto com leite e cerveja), e amo plantas. Estou inclusive me aventurando em um herbario. Tudo bem, quase todas as ervas morreram com excessao da menta e da salvia vermelha, e minhas roseiras estao resistindo bravamente. Mas o chifre-de-veado e o jasmim-manga triunfam magnanimos em minha varanda (alias, em minhas andancas descobri que o jasmim-manga e’ comumente confundido com a dama-da-noite, e foi trazido ao Brasil por Burle Marx).
Tambem tenho medo de me tornar uma monotona burocrata do ramo petroleiro, enlouquecer e cometer um assassinato em massa, em pleno Largo da Carioca ao meio-dia.
Darei noticias sobre os proximos pedacos descobertos e investigados.


*Desculpo-me pela falta de acentuacao, porem o computador e' gringo e ainda nao descobri com endireitar essa belezinha.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Retrospectiva

*Escrito em 12/2011. 

Olhando por cima do meu ombro, vejo o rabo de 2011 se arrastando. E que ano.

Tive menos cuidados com as palavras (ou nenhum), me expus, não esperei, fui mal-educada, pacífica e pacifista, ignorei solenemente os protocolos morais e sociais que me convieram ignorar, fui leal à mim. Bebi muito, dormi pouco, fumei maconha, tomei anfetamina, sibutramina, neosaldina e quase stricnina. Fiz muito sexo, com amor e por diversão, sempre da melhor qualidade. E quando não fiz nem por um motivo nem pelo outro, o fiz simplesmente para matar a fome.  Tive uma affair com um rockstar. Amei desesperadamente por 2 meses, namorei à distância, me re-apaixonei por um amor da adolescência, cultivei uma arqui-inimiga, ganhei mais um pai e finalmente, um amor tranquilo. Fizemos duas tatuagens desde então, fomos ao show de nossas vidas, tomamos o porre de nossas vidas, noivamos. Cospi em muita gente, dei à mão à tantas outras.  Fui à muitos saraus, luais e afins. Fui a duas festas de penetrea. Composicionei-me. Fiz novos e grandes amigos, ganhei mais família, aprendi que eu posso ser dura e crítica. Não fiz nenhuma dieta, e coincidência ou não, nunca me senti tão bonita. Escrevi, fumei, tomei coca-cola, toddynho, chorei, trepei, brinquei, trabalhei, e fiz tudo isso muito. Aliás, continuo fumando muito (fecho o ano contando 2 maços/dia). Descobri que sou admirada por pessoas que admiro, iniciei minha carreira de super-homem, fui promovida em minha carreira de Clark Kent. Tive um namorado virtual. Descobri 3 fãs. Gravei um vídeo. Escrevi um roteiro. Fiz um curta. Posei para fotos. Ganhei o homem mais bonito da festa. Aprendi a não me referir ao meu ex-noivo como meu ex-noivo. Ganhei uma Libélula Rubra só minha. Arrumei meu quarto. Exorcizei fantasmas antigos, arrumei alguns novos. Tentei e desisti da terapia. Mais tatuagens. Deixei o cabelo crescer. Cortei o cabelo curtinho. Cortei o cabelo moicano. Deixei crescer de novo. Perdi uma amiga. Enterrei duas (Jess e Helô, a saudade vai se abrandar, eu prometo...). Fiquei hipertensa, tive crise de coluna, renal, estomacal e respiratória. Dei pra um médico. No hospital. Comprei uma  gaita, um scarpin azul-caneta, uma bolsa lady-like fúcsia, um par de oxfords off-white, a coleção de Black Kiss – Howard Chaykin, brincos de caveira e material de desenho novo. Li 19 livros, partindo para o 20º.  Voltei às minhas aquarelas. Descobri algumas perversões. Fodi o juízo alheio (mas por pura reciprocidade). Ganhei um par de irmãos que namoram (sim, é mesmo complicado). Namorei à distância. Viajei. Viajei mais. Cansei de viajar. Dormi em hotel, motel, pousada, rodoviária, restaurante, avião, carro, ônibus, tapete e aeroporto. Perdi minha carteira de identidade. Achei dinheiro, um vestido, um par de havaianas no meu número. Perdi um par de sapatos da minha mãe e uma jaqueta branca. Terminei a coleção de meu seriado favorito, de meus filmes + livros favoritos e começei minha Vídeoteca 80’s. Encerrei minha última contagem da coleção de LP’s em 3’787, mais duas coleções extras: uma dos Beatles, com a discografia completa incluindo singles raros, todos americanos e uma do Led Zeppelin (really, Led.) no mesmo esquema. Me descobri parte de um clã. Comprei um toca-discos portátil. Troquei as cordas do Jim e estou pensando em tirar todos aqueles adesivos e deixá-lo mais apresentável............................................................................................... .................................................Olhando por cima do meu ombro, vejo o rabo de 2011 se arrastando. E que ano.

Fadada ao Fracasso

Talvez devesse tentar meditar. Tentar ingerir menos protieína animal, me importar com as árvores e as alfaces. Tentar trocar meus heróis fumantes por santos ou ativistas. Tentar beber água mais de duas vezes por semana, tentar passar mais de dois dias sem cerveja. Tentar sorrir mesmo sem sexo. Tentar ser simpática mesmo sem... Nevermind, não conseguirei ser simpática.  Tentar não extratificar em dados apurados o amor. Tentar não questionar o amor. Tentar não ignorar o amor. Tentar o socialismo, apesar de acreditar ter verdadeira vocação para anarquia. Tentar cozinhar a carne para comê-la, e assim me desvencilhar da semelhança com Hannibal Lecter. Tentar piadas politicamente corretas. Tentar ações politcamente corretas. Tentar frases politicamente corretas. Tentar ser uma boa cidadã. Tentar a não-violência. Tentar não tentar convencer as pessoas de que seus sonhos são estúpidos e suas vidas medíocres demais para que estas percam seus tempos sonhando. Tentar usar protetor solar, shampoo, Artroveram, Dipirona, Diclofenaco, Ópio, Vallium e um baseado socialmente como as pessoas normais fazem para curar suas dores. Tentar dizer mais vezes ao tatuado o quanto o amo. Tentar ser mais doce. Tentar não questionar, categorizar ou quantificar o amor. Tentar não me comprazer na desgraça de meus inimigos. Tentar oreções sinceras, com os Deuses e homens. Tentar não fumar 40 cigarros por dia e tentar não rir disso. Tentar não fazer piadas com um possível câncer no pulmão. Tentar não fazer piadas com a Wanessa e com seu bebê e tentar não rir de quem as faz. Tentar não repetir a piada de que meus pais deveriam ter-me obrigado a malhar a bunda no lugar de estudar. Tentar malhar a bunda às vezes. E o resto se possível.  Tentar não associar fome à gordura trans. Tentar manter-me quieta diante da estupidez alheia. Tentar não planejar meus passos. Tentar depilação com cera quente e calcinhas de algodão. Tentar enjaular a Raposa e me portar como uma meninas apenas para variar. Tentar não mandar as pessoas tomarem no cú a cada burrice testemunhada. Tentar não falar palavrões.

...

Tentar cada uma dessas tentativas para, pelo menos, convencer-me de que esta sou de fato eu e não adianta tentar.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Back In The Saddle Again


Cá estou de volta. Soturna, maliciosa, cínica e voraz.  Esfinge tresloucada, aquela que só devora e não pode ser decifrada. Andróide poético que não sente nem ama, apenas reflete, analisa, interage, quantifica. Quero olhar para tudo como que tivesse nascido agora, agorinha. Quero é desconhecer.

Eu, que deveria saber que não há perdão para almas como a minha, voltei ao inferno. Do lado de cá mais uma vez entendo porque sempre desprezei a alma humana (principalmente a alheia) em função da carne. Por que não há nada além daqui. Porque de nada, além de te poupar o lado mais divertido da vida, te serve ter uma alma.  Por que trocas práticas (os chatos e pudicos dirão superficiais) são menos monótonas e dramáticas, e no fim das contas te arrependerás por qualquer perda de tempo. Feito o amor, essa invenção de péssimo gosto. A piada mais longa e mal-contada da história do universo.
Eu prefiro a carne. Esta sim é quente, doce, palatável e de fácil leitura. Que a alma fique para os torturados e mal-comidos metafísicos, poetas e afins. E para a Clarice Lispector, que se encaixa em cada um desses rótulos. Não há droga que amenize a vida, não há recompensa mais grata que a morte. E eu voltei, com ambas negadas.

Eu voltei, e voltei tão faminta quanto hedionda. Quem sabe não crio uma nova espécie a partir das costelas que me faltam? Sim, de volta. Mais puta que nunca.