segunda-feira, 1 de março de 2010

A Odiosa III


Ok! Reconheço que minha necessidade sexual é praticamente fisiológica, aceito minha condição infeliz de ninfomaníaca inveterada. Porém, meus caros, os diletos leitores hão de convir que 3 meses de completa, ampla, geral, absoluta e irrestrita abstinência sexual é demais para qualquer mamífero. Como se não bastasse a atual conjuntura dos fatos, estou passando pela PIOR TPM EVER! Gostaria de poder entender o motivo de meu útero passar todo santo mês por essa crise existencial. Eu não sou milionária, sou insatisfeita com o tamanho dos meus seios, tenho pontas duplas, ganho pouco, sou chefiada por pessoas de capacidade intelectual infinitamente inferior a minha e o Ryan Reynolds sequer tem consciência da minha existência, mas nem por isso eu me revolto com a minha posição social e saio por aí fodendo o juízo alheio com minhas lamentações. Mas meu útero não pensa dessa forma! E cisma que meu baixo ventre não é suficientemente espaçoso para ele! Ele não entende que seu lugar é abaixo do meu diafragma, e tenta inutilmente transpô-lo, a qualquer custo, me causando dores lancinantes por 7 dias. E por coincidência, por crueldade ou demasiada acidez do humor divino nesses 7 infernais dias encontro-me de TPM. Agora, por favor, avaliem minha dramática situação: ninfomaníaca, abstinente a 3 meses, com cólicas insuportáveis, sangrando ininterruptamente há 3 dias, com os seios inchados e doendo e de TPM. E como se todos esses fatores de risco iminente ao mesmo tempo não fossem suficientemente perigosos, fui cantada por todos os pedreiros pelos quais passei! Logo eu, que sou partidária da máxima que defende pedreiros mudos e castrados! Ou seja, eu estava somente irritada com minha deplorável condição de frágil ser humano desprovido de garras ou fortes caninos ou qualquer outro meio natural de defesa que somente utiliza 10% de sua capacidade cerebral e se acha a última coca-cola gelada do deserto por tal futilidade, mas agora eu estou com sede de sangue! O próximo que me cantar, juro que arranco o pau a dentada!

Súcubo

Olho-me no espelho, me suprime o ar o que vejo de volta. Pura crueldade da enorme ironia contida na capacidade dele de refletir única e exclusivamente a verdade, tanto profunda quanto aquela que paira na superfície. Ele, sádico e sarcástico que só, com sua acidez que lhe é peculiar, mostra-me sempre além do que estou disposta a ver. Ele mostra-me sempre nua, com todo o negro que povoa minha mente transcendendo a surrealidade e contornando-me os olhos, escorrendo pela pele alva do meu rosto, manchando toda a brancura angelical que serve de mimetismo. Mostra-me o carmim borrado de meus lábios, transbordantes de luxúria de carmim igual. Mostra-me os olhos cor-de-mel que gritam desconsoladamente implorando pelo perdão daqueles que já magoou e gritam também irados, em sua vã tentativa de afugentar possíveis novas vítimas. Mostra-me a vasta extensão de generosas curvas e atraente relevo, inteiramente coberta por alvíssima e macia tez, que esconde dos menos atentos toda sorte de pecados já consumados, e tantos outros que ainda estão por vir. E ainda não satisfeito com as feridas que acabara de abrir e salgar, mostra-me tristeza, ira, ódio, tanto desamor, desprezo meu por mim, e deles por mim, e meu por eles.
O Sol começa a tingir a cidade de vermelho, a raposa começa a me espreitar uma vez mais. É hora de recomeçar a caçada, a lua já me espera ardendo sobre a pele. Ela uiva em meus ouvidos, inquieta, sedenta por novas memórias, se contorcendo por novas presas. Não tenho forças pra lutar, nada mais exaustivo para uma pecadora que tentar resistir a um demônio. “Não tive sequer o sopro necessário, e me negado o respiro me foi imposto o sufoco” de saciá-la. Uma vez baixada a guarda, não há mais como fugir de tamanha ferocidade. Tudo nela foi cuidadosamente preparado para atraí-los, encantá-los, enfeitiçá-los. E ela não poupa ninguém, nunca, pois sua sede não tem fim. Ela não sente nenhuma piedade, e faz questão de mostrar o amor a cada um deles, pois a dor de quem morre por amor é das mais saborosas. E aqueles os quais ela não consegue tirar a vida, somente plantar ódio, também são úteis pois ela se alimenta de ira e de qualquer outro sentimento baixo e denso.
Agora a lua já no alto me transforma em mera espectadora. Ela, a raposa, assume total controle e volta ao espelho. Recuso-me a olhar, mas seu passatempo favorito é me torturar (coisa que ela faz com tal admirável maestria). Ela me força a vê-la, e eu quase consigo admirá-la. Ela consegue ser sempre irresistível, a qualquer um. Sua pele exala o perfume que mais agradar à presa escolhida. Seus olhos estão em constante mutação, possuem as mais belas cores jamais vistas em outros olhos.

... To Be Continued...

Romantismo de Botequim


Vou andando por caminhos tortuosos... Digamos pouco ortodoxos. Mas matemática é bem simples: Não desperdiço oportunidades. E elas aparecem em uma velocidade vertiginosa. Porém pago o preço devido, não posso me apaixonar. Ou melhor, não podia pois agora o amargo mudou de sabor... O havia eleito como presa em potencial seis meses atrás. Motivos? Os mais óbvios possíveis: ferormônios. Acompanhados por belo par de olhos verdes, torso proporcionalmente largo, um quê de macho-alfa desconcertante. Seu olhar me despia. Sua barba me arranharia docemente num futuro bem próximo. Ok, nem tão docemente assim eu descobriria. Suas mãos eram nitidamente precisas. Sob a camisa sutilmente vincada por músculos definidos na medida do meu tesão, seu peitoral e abdômen me faziam salivar. Sua boca... Ah! Sua boca ainda não possui adjetivos capazes de descrevê-la, nem no quesito beleza ou habilidade. Seus olhos me devoravam despudoradamente e sua nuca clamava pelos meus lábios. Dei-me conta de mim quando percebi que cada pêlo do meu corpo estava eriçado, somente por sua visão.
Os dias seguiram no marasmo ao qual eu estava irritantemente começando a me acostumar, quando em um despretensioso final de tarde, nossos olhares se cruzaram de forma diferente. Talvez tenha sido culpa da Raposa, que até o assustou um pouco, mas não o suficiente para fazê-lo desistir. No dia seguinte lá estava ele, naquela mesma esquina me esperando. Mal acreditei quando vi. A Raposa não só teve sua chance como de fato o seduziu, e deixou o grand-finnale para mim! Certa de que não desperdiçaria tal oportunidade, a conversa se desenvolveu rapidamente. Passamos por pintura, música, filosofia, literatura, religião, experiências paranormais e amorosas (o que dá praticamente no mesmo...), histórias da nossa infância... E os pontos de interseção eram tantos e tão imensos e tão intensos que me emocionei em vários momentos da conversa. De repente, por um breve momento de silêncio em que tentávamos decorar a geografia um do outro, ele me beijou o canto da boca, e foi tão terno tal beijo, que retribuí beijando-lhe a face. Nesse momento deu-se início a uma selva de bocas insaciáveis e mãos inquietas e corpos sedentos por mais. Os dias que sucederam esse foram ainda mais gostosos, emocionantes. Fomos invadidos por sentimentos inesperados para ambos, e também por uma enorme, quase incontrolável necessidade de termos nossos corpos em um único. E junto com tudo isso uma linda e sublime amizade, uma imediata compreensão recíproca, um desejo mútuo de fazer bem e estar junto. E além disso um tesão incrível, revigorante, devastador. Seus olhos ardem sobre minha pele. Suas mãos percorrem meu corpo com uma perícia sobrecomum. Elas sempre sabem exatamente onde quero ser tocada. Seus dedos apresentam uma eficácia explícita. Sua boca tem o dom de minar minha resistência, levá-la ao limite, sempre que alcança minha nuca. Rapidamente começo a transbordar tesão e já não respondo mais por mim. Eu, incandescente. Ele, brasa. Consumimos um ao outro em uma inflamabilidade incontrolável. Consumi mo-nos sem nos tocar, e como eu anseio por esse toque. Espero arduamente pelo dia em que seremos um do outro . Até lá os dias são simplesmente dias e as horas não passam de carrascos a me torturar os sentidos.

O Rio Sempre Será a Corte


Rio de mulatas e morenas rebolativas, coloridas até os cabelos de cores exuberantes desfiladas sobre o preto-e-branco de Copacabana. Rio onde até as mais pálidas (como Foxy, que humildemente vos escreve), são douradas de praia. Rio onde o terno, depois de muito resmungar, é colocado na segunda-feira pela manhã, e quase prontamente começa a ser despido, para na sexta... ah, na sexta à tardinha não restar-lhe nem as meias sintéticas nos calçados sociais. Rio onde gravatas e espartilhos sempre foram e sempre serão brutal e duramente rechaçados. Rio de toda malandragem, jogo-de-cintura, sinuca, simpatia, risada gostosa, chopp suado, flerte e praias infindáveis... Rio da Lapa, desde sempre reduto de toda boemia borbulhante, artistas em ascenção e amantes inveterados de todos os efêmeros prazeres que a vida noturna é capaz de proporcionar àqueles que sabem aproveitá-los com sabedoria. O Rio sempre será a corte de todo o frescor da vida em plena efervescência. O Rio sempre será a corte.

O Retorno da Furacão ou Simplesmente Daniel


Eu estava muito bem, estava indo realmente bem. Descobri uma segunda e mais divertida obsessão, arrumei mais uma paixão impossível e estava feliz concentrando parte das minhas forças em fantasiar possíveis primeiros encontros e noites de sexo inesquecíveis com Taylor (minha nova arrebatadora paixão). Wolverine tornara-se praticamente um vulto em meu cérebro, uma rara aparição assustadora que me assombrava parcamente em noites especialmente estranhas, frias, escuras, ébrias e solitárias. E tais aparições se tornaram cada vez mais raras e esparsas. E eu com isso sentia-me cada vez mais livre. A cada dia sem ele e a sem possibilidade de seu retorno à minha vida (desconheço o motivo que o levou a sair, perdi algum tempo e energia concentrada no objetivo de descobrir tal porquê e de atraí-lo de volta para mim como fiz da primeira vez. Depois de me abater o cansaço fui gradativamente desistindo de descobrir o porquê e somente desejando-o de volta de qualquer que fosse a forma. E o amor me consumia e a porta ficou aberta por algum tempo e ele não veio, nem sequer mandou notícias, e eu finalmente desisti por absoluto.) voltei a me entregar à raposa. E minha vida voltou a ser divertida e eu voltei à minha velha forma, à boemia, e a dor que me apertava as entranhas voltou a me servir. E voltei a sorrir ainda que ferida e as feridas não mais me atrapalharam. E meu senso de humor voltou ao seu pH normal: ácido. E então, depois de muito vadiar (“Não vadeia Clementina....Fui feita pra vadiar, eu vou, eu vadiar, vadiar, eu vou vadiar”) e de driblar a morte duas vezes em uma semana (at least I think...), resolvi de fato voltar, certa de que estava curada da dor, embora soubesse o amor ainda estava aqui, porém domesticado. E então ele surge de repente. Implacável. E vem, com certa atitude de quem reivindica posses, com autoridade de de quem se faz dono. Voltou como um violento furacão. Eu então, prontamente decidi confrontá-lo e descobrir o que em mim o causava tanta repulsa, mais provável motivo de seu brusco sumiço. E paradoxalmente ele manteve a postura de ignorar-me solenemente independente da situação ou do lugar. E mais uma vez ele conseguiu com maestria o que nenhum outro carcaju chegou perto de fazer: o simples cogitar a hipótese de sua proximidade fez minar minhas barreiras em segundos, como um castelo de areia à beira-mar. O amor enjaulado revelou-se uma besta ensandecida e voltei a sangrar sem ter ao menos olhado em seus olhos.

A Odiosa II


Analisando friamente minha vida sexual/amorosa, chego a uma grave conclusão: tenho feeling para sociopatas, psicopatas, obsessivos, compulsivos, mitomaníacos, pseudos-messias , cineastas, ou seja, toda sorte de caráteres comprometidos. E agora encontro-me em uma sinuca de bico. Estou saindo com um cara aparentemente normal. E eu não sei como lidar com normais! Ok, ele não é tão normal assim, afinal é escritor, pintor, ator e filho de diretor e ator de teatro, mas tudo isso não chega a ser evidência de caráter facilmente corruptível ou já corrompido, já que eu mesma sou adepta de uma prática também egocêntrica (ou esqueceram-se de nossa querida raposa?!). Não que eu queira acordar um belo dia depois de uma noite inrível de sexo selvagem e vê-lo usando meu fio-dental de renda lilás com a bunda raspada dançando valsa com um Hugh Jackman inmaginário ao som de Ne Me Quites Pas (na verdade essa seria uma cena absolutamente estapafúrdia para a qual nem eu mesma estaria preparada, nem com todas as minhas experiências amorosas bizarras.), mas seria mais fácil pra mim caso ele tivesse uns lapsos de vez em quando...

Resoluções de Carnaval:Mulher e Mulata são coisas diferentes.


Mulher e multa são coisas totalmente diferentes. Mulher sou eu, você, qualquer uma que nasça, coma, engorde ou sofra de TPM todo odioso mês. Mulata é uma entidade, qualquer quê de divindade, com aquela graça sobrenatural, ou supernatural. Mulheres aprendem a andar com dificuldade aos 10, 11 meses de idade. Mulatas são concedidas a esse mundo pela compaixão dos bondosos Deuses, enternecidos ou entediados com os clamores de nós, pobres mortais. Mulheres tentam sambar. Mulatas deslizam suaves e ritmadas por surdos, repiques e tamborins, transbordantes de elegância, rebolativas e coloridas. Mulheres sofrem horas a fio torrando-se aos raios UV do cruel Sol dos trópicos, ignorando solenemente as investidas sutis de melanomas e manchas senis. Mulatas desfilam seu marrom-dourado em qualquer época do ano, principal 'indício' de sua real divindade inquestionável. E ao Sol, sua cor inumana, ou até (algumas mortais invejosas e despeitadas podem dizer) desumana parece ainda mais irreal, invejável, levando nossa vaidade ao extremo, beirando à tortura (Ai de nós e de nossa pobre pele e carne!). O sonho de chegar ao bronze que banha a Mulata e que refulge à tardinha pode ser até ouvido nas praias cariocas, onde mulheres flagelam-se À luz da estrela Mór, a um calor de 43 graus , murmurando “mea culpa, mea culpa!” Vãos lamentos, vã obsessão! Mulheres, enquanto nascerem, comerem, engordarem e sofrerem todo odioso mês com da TPM serão sempre mulheres. E Mulatas, enquanto nossa vã filosofia tentar cogitar hipóteses sobre seu surgimento, ou descobrir se acaso são de carne e osso, serão sempre Mulatas. E ai de nós, mortais e passíveis de envelhecimento mulheres!

Lupinos II


Ele, apesar do aspecto tosco, rude, apesar de exalar virilidade, como que houvesse algum resquício de elegância e cordialidade quase européias naqueles músculos proeminentes e bem cultivados, com um rápido movimento se interpôs entre ela e o batente, abrindo-lhe a porta. Com esse movimento, ela pode sentir seu hálito morno dentro de sua boca, já que seus lábios se tocaram levemente. Ela resistiu bravamente aos seus mais bárbaros instintos, e irritou-se com ele pela insistência em fazer uso daquele enervante cavalheirismo que o impedia de agarrá-la "à força". Pseudo-recomposta de tal situação, atravessou a porta que ele segurava. Ele se pôs à ela de forma que ao passar, obrigatoriamente roçasse em seu peito. Seu torso viril era largo, minuciosamente vincado por músculos e levemente enegrecido por pêlos, que o deixava ainda mais irresistível. Ao passar por ele, pôde sentir seu cheiro. Simplesmente enlouquecedor. A barba por fazer, espessa e cerrada que emoldurava seu rosto, e o deixava com um quê de macho-alfa, arranhou seu rosto de leve, fazendo-a trincar os dentes de desejo. Seus olhares se fixaram um no outro por quase um minuto sem se desviarem. Uma eternidade. Seus olhos eram de um verde penetrante, ligeiramente amendoados, e transbordavam uma paixão tocante, um desejo, um tesão.
Ao passar pelo batente tentando se convencer de que faltava menos de um passo para que seus batimentos se normalizassem, sentiu uma mão quente e bruta em sua nuca. Seu coração voltou a acelerar de tal forma que a fez pensar que sua caixa toráxica não suportaria. Ele empurrou-a contra a parede, impedindo qualquer movimento dela com seu próprio corpo. Ela pôde sentir em sua pele cada um daqueles músculos milimetricamente definidos. Ele pousou lentamente sua boca ao pé do ouvido dela e sussurrou-lhe: "- Depois dessa noite, você vai desconhecer qualquer outro toque, qualquer outro corpo, qualquer outro cheiro." Do pé do seu ouvido, sua boca deslizou quente até suas clavículas, com aquela língua maliciosa delineou um humilde esboço do que seria a noite no breve momento que levou pra percorrer o espaço entre ouvido, pescoço e clavículas.

A Odiosa


Podes até desfazer-se de mim alegando que como um Demócrito, eu observe e ridicularize os acontecimentos da vida humana. Porém , assim como ele, pela excelência do gênio e de talentos, estou acima da maioria dos homens, embora às vezes peque pelo velho hábito de ser a todos amável e grata. A despeito da última frase (que é fato irrefutável), permito-me andar deveras odiosa ultimamente (por 'ultimamente' leia-se de hoje, dia 19 de janeiro de 2010 até março aproximadamente, pulando o carnaval e a quarta-feira de cinzas. Escrevo utilizando o futuro como tempo verbal pois quando este texto for publicado, eu já estarei por completo odiosa da vida e das pessoas, portanto uso 'ultimamente'). Até ouço o dileto leitor indagar-me o motivo desse tanto de descontentamento e de pronto respondo-lhe: hormônios, sociedade, dogmas culturais, enfim, aquele calo que de tempos em tempos nos atrapalha o caminhar. Sim, pois se não fossem os hormônios nós não passaríamos por aquele clássico período mensal de abolição de critérios, expansão social e imensa absoluta e irrestrita necessidade sexual chamado de CIO. Se não fosse a sociedade, não viveríamos a pressão de estar 24 horas impecável, com os cabelos da Rachel Weiz, unhas invariavelmente cutiladas (como se essas pragas não crescessem em uma velocidade exponencial), corpo milimetricamente esculpido por horas a fio de power ioga, power pilates, power spinnig ou qualquer outro tipo de tortura medieval rebatizada com um nome em inglês que seja praticado ao som daquela igualmente torturante e estridente música eletrônica, de acordo com o padrão europeu não recomendado/aceito pela OMS (FODA-SE se você é brasileira e sua herança genética te deu de presente quadris largos e bunda enorme, ou se você mede 1,80 m e acha que ter 2,1 de IMC é um pouco de exagero da indústria da moda, você é uma mulher cosmopolita e não uma aborígine com obesidade mórbida.), ter o emprego dos sonhos, o marido dos sonhos, filhos dos sonhos, saber fazer um ratattuile de amêndoas e um tartar de salmão divinos em 2 minutos e praticar sexo com o seu marido dos sonhos pelo menos 4 vezes na semana e chegar ao orgasmo todas as vezes. E se não fossem os dogma culturais nós não teríamos que conquistar tudo isso antes dos 30! Isso obviamente sem contar com aventuras, porres, viagens mal-sucedidas e fantasias sexuais realizadas, afinal, se você quer ser aceita pela sociedade tornando-se uma mulher maravilha até os malfadados 30 anos é necessário que esqueça QUALQUER coisa que a remeta à palavra DIVERSÃO e trabalhe duro ( a não ser que você seja uma menina prodígio ou uma feminista cabeluda sem pretensões amorosas para os próximos 47 anos e 9 meses, período em que passará por diversas crises existenciais até por fim mudar-se para Visconde de Mauá ou Trindade, começar a plantar e fumar maconha – possivelmente vender também , fazer artesanato com coco e penas e se assumir como hippie – sim, pois esses é seu destino!). Ok! Assumo. É a TPM.

Conexão Yakusa


Rio de Janeiro, 20 de Junho de 2008.
Sexta - feira, por volta de 20:00 Hrs.
"Estou mesmo nervoso, ando nervoso ultimamente. Tinha três pendências a serem resolvidas. Dois meses era o prazo. Uma delas foi parcialmente solucionada. Uma verdadeira lambança, preciso consertá-la." Ouvia a tudo atentamente, e o mais importante, sem parecer atenta. Ela era muito esperta e tinha certeza de que caso ele percebesse seu interesse em tudo o que dizia, ele mudaria de assunto e ela nunca mais ouviria a respeito daquilo que soava como uma confissão. Então continuou deitada em seu ombro e sentindo suas mãos entre seus longos cabelos (carinhos da parte dele eram raros ultimamente.) Ele prosseguiu. " Troco de aparelhos celulares uma vez a cada mês. Mudo o número e a operadora também, pois passado um mês aquela linha deixa de ser segura. É por isso que você não tem meu número, nem terá. Não quero envolvê-la em nada." Ela permanecia aparentemente alheia a todas aquelas revelações, e por mais absurdas que soassem, faziam bastante sentido se encaixadas a outros fatos ocorridos nos últimos meses. E ele continuava a falar, como se estivesse em um divã. "Nunca vi a pessoa para quem trabalho, para não criar vínculos. Mas apesar de estressante, tem aspectos positivos, como por exemplo, contatos. Faz-se muitos contatos importantes, muito úteis. Esse final de semana eu tenho que limpar a bagunça que eu fiz. E só faltarão duas. Meu pai e minha irmã não sabem do meu trabalho. Por isso parei de dar aula, por isso sumo às vezes e por isso não posso estar com você todos os finais de semana. A primeira coisa que aprendi quando comecei foi leitura labial. ( Nesse exato momento pensei: 'você é realmente muito bom nisso.' me recordando da primeira vez em que disse que o amava, entre-dentes, logo que ele saiu do ônibus, e ele imediatamente me ligou para que eu repetisse o que havia dito através da janela) Depois aprendi a não deixar rastros. Sabe como se faz para sumir com as impressões digitais? É só esfregar as mãos em pó de cimento ou massa para emboço." Enquanto dizia isso mostrava-me suas mãos, sem impressões digitais. Aquilo tudo começava a fazer sentido agora. Algo dentro dela a dizia que cada vírgula era verdade, ela tinha certeza de que ele estava sendo sincero, totalmente sincero. Sentia-se tão íntima dele naquele momento como sentiu-se poucas vezes. Então ele finalmente notou que havia ido longe demais, havia falado demais a respeito de um assunto o qual nem deveria ter tocado. Virou para ela e disse:" Você deve estar confusa, não deve estar entendendo absolutamente nada. Esquece tudo o que eu te falei agora, não vale à pena . . ." E com um gesto terno, talvez o mais terno que já teve com ela, puxou-a para perto de si, a envolveu em seus braços e começou a acariciá-la a face e seus cabelos, com alguma esperança de aquilo, de alguma forma talvez apagasse sua memória. Ele a conhecia. Eles se conheciam incrivelmente bem, como que por instinto, sabiam quando um estava sendo sincero com o outro. Talvez por serem muito parecidos, talvez por terem uma ligação muito maior do que poderiam ambos imaginar.
No começo, logo que se conheceram, desenvolveram uma relação quase que imediata, como animais da mesma espécie, que mesmo sem nunca terem se visto reconhecem-se pelo cheiro. Sentiam a necessidade de se tocarem, de sentirem a pele um do outro. Respondiam aos mesmos estímulos. Ambos eram inteligentes e possuíam aptidões semelhantes.
Na faculdade, tinham muitos amigos em comum. Inclusive seus melhores amigos eram os mesmos. Riam juntos, seus sensos de humor eram muito parecidos. E gostos musicais também. Ele era quase tão carnívoro quanto ela, exceto o gosto dela por carne crua, que ele não compartilhava. Eram amantes da velocidade também. E do cheiro da gasolina. E de lutas. E de tudo enfim. Tudo o que um gostava o outro gostava também. Logo todas essas afinidades ficaram muito claras, evidentes demais para disfarçar. E assim como as afinidades seus desejos.
Ela era noiva, pretendia casar-se dentro de um, dois anos no máximo. Ele namorava há cinco anos, sua primeira namorada. Ambos não podiam mais ignorar tudo aquilo que sentiam. Não podiam mais ignorar as trocas de olhares, o arrepio na pele quando se encostavam. Não podiam mais ignorar que pensavam um no outro a todo momento. Ele não podia mais ignorar o fato de que durante as aulas ficava a admirar as expressões dela. Séria quando resolvia alguma questão matemática, sorridente quando assistia a aula de seu professor preferido. Ela não podia ignorar o fato de que aqueles eram os olhos verdes mais lindos que ela já havia visto. E que sua boca possuía simetria perfeita. E que seu jeito, apesar de brincalhão, não deixava esconder que ele era um homem de verdade.
Quase um mês depois, começaram discretamente a trocar emails. Os inocentes emails passaram a inocentes mensagens de celular quando o feriado finalmente os separou. As inocentes mensagens deixaram de ser assim tão inocentes. Passaram a ser confissões da imensa saudade que sentiam um pelo outro. Uma semana após desistirem de disfarçar, terminaram seus compromissos e começaram um novo.
Foram deliciosos dias, meses . . . Eles eram realmente muito parecidos. Ele dizia que se sentia como um adolescente ao seu lado, como se fosse seu primeiro beijo. Ela sentia-se especial como nunca, sentia-se mulher, sentia-se amada. Em uma ocasião, na volta da faculdade, ela esperou ele descer do ônibus, e quando ele olhou para ela através da janela, ela não resistiu e sibilou um tímido 'eu te amo', com a certeza de que ele não a entenderia, pois ela não queria de forma alguma o pressionar, afinal, tudo ia tão bem! Mas ele entendeu. Tão bem que ligou pra ela imediatamente para que ela repetisse tal frase para ele, e então para sua redenção ele disse "quis te dizer o mesmo semana passada, e não disse porque não queria te pressionar, não queria te forçar a nada." "Somos realmente muito parecidos" ela disse.
Aquela noite ela dormiu com um sorriso nos lábios. Duas coisas que não aconteciam há muito tempo. Sorrisos e noites dormidas.
Três meses após seu primeiro beijo, deram um tempo. Ele usou argumentos plausíveis, ela aceitou-os prontamente. Saíram de relacionamentos muito longos, e apesar do que sentiam um pelo outro, aquele não era um namoro dos sonhos de ninguém, afinal de contas, mal se viam. E eles concordavam em um ponto (ok, eles concordavam em vários pontos a repeito de vários assuntos), precisavam amadurecer a amizade que havia entre eles. E assim foi feito, cada um para um canto. Não se viam, não se falavam. Não se falam ainda. Ainda não se viram. Mas ambos têm certeza de que têm muito a conversar. Não sei quanto a ele, mas ela tem certeza de que o saldo será positivo. O amor que ela sente é puro demais, ela diria até fraternal, portanto não se importa com o futuro do relacionamento deles, só tem uma coisa em mente: continuar a fazê-lo feliz, independente de como.

Clepsidra


Perco a voz, as palavras, o tato... Perco a objetividade, a racionalidade, a razão. Perco a certeza, o eixo, os sentidos. Perco o limite, o pudor, vergonha. Perco o ar, o fôlego...
“Boemia, aqui me tens de regresso, e suplicante te peço a minha nova inscrição...”
“Quando o trovão canoro encontra-se confuso, à folha seca só resta ser pisada.” Essa brilhante frase de uma amiga poetisa (ou de uma poetisa amiga, não sei se ela é mais amiga ou poetisa, porém exerce os dois cargos com maestria.) descreve com precisão o momento em que me encontro. Ou melhor, o descreve com a pseudo precisão de uma clepsidra*, pois ainda não sei se na atual conjectura dos fatos estou mais para trovão canoro ou para folha seca. Encontro-me entre os deliciosos e efêmeros prazeres que somente a boemia consegue me proporcionar e o sonho romântico de viver um grande e eterno amor (que dura tanto quanto a efemeridade da vida permitir) com um homem que aparenta ser o meu reflexo no espelho: idêntico e ao mesmo tempo o oposto.
Sempre quis viver um amor, mas nunca estive disposta a abdicar da minha vida boêmia para isso. Por isso o fracasso de meu mais intenso relacionamento, e da dúvida que me aflige a respeito de tê-lo ou não amado. Mas agora a coisa muda de figura. Estou apavorada com o fato de simplesmente passar pela minha cabeça a possibilidade de cogitar a hipótese de trocar minha vida de predadora para passar à caça por livre e espontânea vontade. Penso que pode ser somente mais um devaneio de uma raposa em busca novas memórias, mas quando me lembro daquele olhos verdes (sempre eles!), daqueles lábios macios, daquela língua precisa, aquelas mãos, aquele cheiro...huuuummmmm... Deliro, simplesmente deliro. O que me assusta é que eu sinto tanto por ele, e apesar de muito desse tanto ser tesão, grande parte desse tanto (a maior parte) é ternura, carinho, paixão e outros nomes que não atrevo a pronunciar . E agora? Folha seca ou trovão canoro?
*Clepsidra: Relógio de água. Desenvolvido por Galileu Galilei a partir da observação da propriedade exclusiva da água, de em sua forma líquida levar sempre o mesmo tempo para “vazar”. Era muito mais útil que os contemporâneos relógios solares, já que permitiam a marcação do tempo à noite também.