sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Alegoria da Caverna

Andando pelas ruas fétidas do centro do Rio, tingidas por tons de cinza que nem mesmo sabia que existiam, onde manhãs e pores-de-Sol se confundem tamanha a quantidade de sombras escuras que inundam cada viela, sinto falta de pequenos detalhes dos meus tempos de escola e de todas aquelas ilusões. Misturo-me hoje em meio ao concreto armado, prostitutas, mendigos e travestis e tento não ser confundida. Enquanto valho-me de um mimetismo mais que necessário, lembro de antigos amigos, pseudo-burguesinhos que costumava a rechaçar por toda aquela pose. Hoje vejo que nem sempre era por vontade de aparentar mais do eram em essência, mas porque como eu sou hoje, naquela época eram apenas produtos do meio em que viviam, que transbordavam futilidade, estupidez e inocência, uma inocência que os próprios desconheciam possuir. Hoje andando pela Lapa, antro de toda a boemia e de todo o tipo de escória (onde me sinto estranhamente à vontade), lembro-me de como amava a luz do dia, e de meus anseios de um dia ter 1/5 da inteligência e sabedoria do meu professor de física II (bom, ainda anseio por ser uma pequena parte do gênio que ele é). Hoje, tudo o que eu estudei por prazer, por amor à cultura e à ciência, por desprezo às imposições religiosas, por desejo de ser maior que os limites da cidadezinha provinciana em que eu nasci e cresci, não passam de informações que vagueiam em meu cérebro à noite, ecoam misturados à devaneios e me fazem rascunhar alguns papéis. Ou de motivo para piadinhas sem-graça de gente que nunca ouviu o termo "comédia inteligente". Hoje, almoçando ao lado de prostíbulos, sentada à mesma mesa em que essas "profissionais liberais" sentam-se, sinto como navalha fria na carne que não é nem um pouco fácil escolher entre a pílula azul ou a vermelha e despertar para o mundo de verdade (o que é bem diferente do colorido que vocês vêem aí). Como me faz falta toda essa futilidade burguesa em meio a qual eu nasci, e para onde nunca mais voltarei, pois depois de ter enxergado a verdade, uma vez que seja, não se pode desejar retornar à ignorância. Um conselho que dou à todos vocês que hoje vivem o que eu já vivi: "A Alegoria da Caverna." Ok, eu na idade de vocês também faria pouco caso de Platão (na verdade não, na idade vocês eu já AMAVA filosofia), mas é uma leitura necessária para que aceitem com um pouco menos de relutância o que está por vir.