segunda-feira, 1 de março de 2010

A Odiosa


Podes até desfazer-se de mim alegando que como um Demócrito, eu observe e ridicularize os acontecimentos da vida humana. Porém , assim como ele, pela excelência do gênio e de talentos, estou acima da maioria dos homens, embora às vezes peque pelo velho hábito de ser a todos amável e grata. A despeito da última frase (que é fato irrefutável), permito-me andar deveras odiosa ultimamente (por 'ultimamente' leia-se de hoje, dia 19 de janeiro de 2010 até março aproximadamente, pulando o carnaval e a quarta-feira de cinzas. Escrevo utilizando o futuro como tempo verbal pois quando este texto for publicado, eu já estarei por completo odiosa da vida e das pessoas, portanto uso 'ultimamente'). Até ouço o dileto leitor indagar-me o motivo desse tanto de descontentamento e de pronto respondo-lhe: hormônios, sociedade, dogmas culturais, enfim, aquele calo que de tempos em tempos nos atrapalha o caminhar. Sim, pois se não fossem os hormônios nós não passaríamos por aquele clássico período mensal de abolição de critérios, expansão social e imensa absoluta e irrestrita necessidade sexual chamado de CIO. Se não fosse a sociedade, não viveríamos a pressão de estar 24 horas impecável, com os cabelos da Rachel Weiz, unhas invariavelmente cutiladas (como se essas pragas não crescessem em uma velocidade exponencial), corpo milimetricamente esculpido por horas a fio de power ioga, power pilates, power spinnig ou qualquer outro tipo de tortura medieval rebatizada com um nome em inglês que seja praticado ao som daquela igualmente torturante e estridente música eletrônica, de acordo com o padrão europeu não recomendado/aceito pela OMS (FODA-SE se você é brasileira e sua herança genética te deu de presente quadris largos e bunda enorme, ou se você mede 1,80 m e acha que ter 2,1 de IMC é um pouco de exagero da indústria da moda, você é uma mulher cosmopolita e não uma aborígine com obesidade mórbida.), ter o emprego dos sonhos, o marido dos sonhos, filhos dos sonhos, saber fazer um ratattuile de amêndoas e um tartar de salmão divinos em 2 minutos e praticar sexo com o seu marido dos sonhos pelo menos 4 vezes na semana e chegar ao orgasmo todas as vezes. E se não fossem os dogma culturais nós não teríamos que conquistar tudo isso antes dos 30! Isso obviamente sem contar com aventuras, porres, viagens mal-sucedidas e fantasias sexuais realizadas, afinal, se você quer ser aceita pela sociedade tornando-se uma mulher maravilha até os malfadados 30 anos é necessário que esqueça QUALQUER coisa que a remeta à palavra DIVERSÃO e trabalhe duro ( a não ser que você seja uma menina prodígio ou uma feminista cabeluda sem pretensões amorosas para os próximos 47 anos e 9 meses, período em que passará por diversas crises existenciais até por fim mudar-se para Visconde de Mauá ou Trindade, começar a plantar e fumar maconha – possivelmente vender também , fazer artesanato com coco e penas e se assumir como hippie – sim, pois esses é seu destino!). Ok! Assumo. É a TPM.

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