terça-feira, 7 de junho de 2011

Ela e Eu (nota em eterna construção)

Ela: Sorriso sempre aberto, ama a vida, lê Bretch, assiste Woody Allen, ouve Novos Baianos e se inspira em Clarice Lispector.



Eu : Mostro meus dentes amarelos de cigarro para poucos e meu cenho já não desfranze mais. Todo o meu engajamento se apresenta em uma razão diretamente proporcional a quantidade de cerveja ingerida, acho que Woody Allen, como cineasta é um clarinetista razoável e só (Zelig nunca me enganou), ouço um roque-trovão e Clarice pra mim nunca foi mais que uma gostosa tediosa...


Ela: Recatada, discreta ate o ultimo fio de cabelos lisos milimetricamente modelados para dar o ar displicente na medida certa. O desarrumado mais arrumadinho do baixo-tropico. Quase uma pudica. (Seus mamilos devem inclusive ser rosa-bebe....virginal)


Eu: Descaralhada (nao existe outro adjetivo, acho). Meus cabelos não veem um pente há muitos anos, desde que foram dizimados por uma impiedosa navalha afiada em um surto de Sweeney Todd – The Demon Barber of the Fleet Street. Meus mamilos não são dignos de entrar entre parênteses. E nunca foram rosa-bebe. Muito menos virginais. Aliás, o simples uso do adjetivo “virginal” em uma frase que tenha por objetivo me descrever já fica um tanto quanto engessado.


Ela: Pratica esportes, está nas redes sociais, usa cachecol rosa e brinquinhos de pérola.


Eu: Evito a fadiga às últimas consequências, odeio tecnologia (o que me parece ser de uma reciprocidade verdadeiramente assutadora), não sei como se usa um cachecol adequadamente (sempre parece que fui atacada por ele, e não que houve um acordo para que ele me esquentasse o pescoço) e pérolas... bem...

Ela: Tem um extenso círculo de amizades, é por todos admirada como uma boa amiga, apesar de um pouco passional, divertida, alegre. É admirada por quem a cerca por ser mais uma vítimas das familias alteradas que contruiu só seus próprios padrões morais. É doce e amável, apesar da dura vida que sempre levou.


Eu: Todos os meus amigos se resumem a uma única e grande amiga, que passa mais tempo se questionando acerca da minha sanidade (ou da falta dela), do meu alcoolismo, dos meus questionamentos tortos e do tempo restante aos meus pulmões. Minha família é apenas mais uma das questões que me atormentam. Fui criada por uma familia indefectível com altos padrões morais e esteio filosófico para suportar os mesmos, o que me levou a isso: acidez, desconfiança, violência.


Ela: Sua ignorância genérica e sede por conhecer é divertida e apaixonante.


Eu: Meu conhecimento filosófico e cultura geral acima dos padrões é irritante e excludente.


Ela: Amada.


Eu: Tolerada.


Ela: Cita Clarice Lispector (sei que já mencionei Clarice antes, mas é que isso realmente incomoda.)


Eu: Vomito Eduardo Haak e Sid Vicious.



...

3 comentários:

  1. será que eu me encaixo na primeira opção?

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  2. Cheguei via post do Crumb, onde li a mais que perfeita adjetivação 'dolorosamente honesto'.
    Depois prossegui explorando, lendo aos pedaços, porque me cansam os achaques femininos. Mas como na foto tu parece bem gostosinha e um pouco charmosa, pensei que valeria a pena olhar com mais calma por aqui. E olha, até que não me arrependi. Acho que entendi tudo. Só não entendo por que é que está na moda pisar em Clarice. E não faço idéia de quem seja Eduardo Haak. E também não sei por que é que acabo voltando a este blog neurastênico.

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  3. Sempre me divirto muitíssimo com esse comentário sabia? O releio sempre, quase semanalmente... Comemoro secretamente o dia 9/06 como nosso "aniversário".

    E claro, acho também muitíssimo divertido o fato de um de meus desafetos, a Taesli, ter colocado-se como inspiração, acho muito engraçadinho e lisonjeiro!

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