“E’ bom estar de volta, ainda que aos pedacos. Nos resta
agora descobrir quais sao os pedacos que me restam.”
Encerrei minha vida de celulose aqui nesta frase, frente a
esse abismo que e’ olhar para dentro. E como foi assustador olhar para dentro
de mim. Descobri que me faltam muito mais pedacos do que aqueles que me
restaram, mas em uma rapida analise, conclui que talvez eles nunca estiveram
aqui.
Me falta, por exemplo, uma generosa parcela de compaixao. E
acho que talvez isso que tenho aqui por tras do meu mediastino nao e’ um
coracao. Acho que falta bom senso ao meu estomago que implora por cerveja ja’
as 5:00 da manha e a minha boceta, que faz todo o possivel para que eu ignore
todo e qualquer protocolo pre-estabelecido. Me sobra amor por gatos, principalmente
pelos meus seis. Eles sao mais sexies em toda sua gloria irracional que eu
jamais serei caso tenha uma longa vida, me dao quase tesao. E uma puta inveja
daquela coluna. Me sobra medo. Medo de tudo, de cair e perder mais ossos, de me
embreagar longe de casa, de morrer de cancer no pulmao, de desenvolver uma
queloide em minha proxima tatuagem, de comer carne vermelha demais e somar mais
karmas a minha extensa divida, de borboletas de todas as cores e formatos
(principalmente daquelas que estalam na primavera). Medo de escrever.
Agora tenho um noivo, sabe. Um santo homem, que acha
bonitinha ate a mais esduxula das minhas perversoes, e seu unico porem nesse
aglomerado escroto de caretas e repudio que sou eu, e’ que, segundo ele, minhas
tatuagens deveriam ser maiores. Haha. Ele nao ouve nem Beethoven nem Liszt, mas
curteLed Zeppelin, o que para mim e minha nova vida, basta. E nessa minha nova vida, descobri que
sou uma pessima dona de casa, apenas cozinho carne (que foi a unica coisa que
comi nos ultimos 24 anos, junto com leite e cerveja), e amo plantas. Estou
inclusive me aventurando em um herbario. Tudo bem, quase todas as ervas
morreram com excessao da menta e da salvia vermelha, e minhas roseiras estao
resistindo bravamente. Mas o chifre-de-veado e o jasmim-manga triunfam magnanimos
em minha varanda (alias, em minhas andancas descobri que o jasmim-manga e’
comumente confundido com a dama-da-noite, e foi trazido ao Brasil por Burle
Marx).
Tambem tenho medo de me tornar uma monotona burocrata do
ramo petroleiro, enlouquecer e cometer um assassinato em massa, em pleno Largo
da Carioca ao meio-dia.
Darei noticias sobre os proximos pedacos descobertos e
investigados.
*Desculpo-me pela falta de acentuacao, porem o computador e' gringo e ainda nao descobri com endireitar essa belezinha.
Continue escrevendo.
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