segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Metades Reclamadas

“Só habita com intensidade aquele que soube encolher” Gaston Bachelard – A Poética do Espaço e Stéphane Dimocostas me sacudindo as fundações.


 
Pois eu acho que viver é expandir-se. Expandir-se até que sua vida torne-se tão densa, mas tão densa que o espaço a sua volta seja nada mais que vácuo.






Eu deixei de fazê-lo, há muito tempo atrás. Creio que desaprendi. Mas foi tudo muito lento e gradual, até que o irretrocessível (cria eu) havia sido atingido.


Deixei de expandir-me em um primeiro momento. Então deixei de absorver aquilo que não me parecia palatável. Então abandonei também o que me aprazia. E deixei a vida me passar, até que se tornasse sopro. Deixei a respiração ir, até que me restasse o suspiro. Deixei que o amor fosse, até que restasse a rua. Mas os espaços continuaram a transmutar-se em vácuo. Os não-espaços, os não lugares, o tudo que me cercava permaneceu seguindo, porém já não havia mais estímulo para que eu também fosse. Vi que o vazio estava ali porque o rio corre, o vento venta, e a vida é dragada para dentro ainda que inconsciente. Só que quando não catalogamos aquilo que entra, é tão fácil perder-se... tão mais fácil se esquecer em meio a tanto não digerido e solto que a vida é sobrevida, e a sobrevida já é uma quase morte. E uma quase morte não significa descanso.






Hoje voltei a ser, a viver, a antropofagizar vida.






Voltei a respirar e deixei os sussurros apenas para os momentos em que me falta o fôlego. Mas hoje sou metade de mim. Voltei a me dar às pessoas em uma outra metade de qualquer metade, tendendo ao infinito fracionado em uma proporcionalidade inversa a tudo que sou/fui.


Mas com isso tudo preciso contar que estou um pouco ansiosa. Acredito que haja perdão até para gente como eu. E nesses casos em que o crime cometido já é a pena a ser paga o perdão vem cheio complacência dos olhos piedosos daqueles que te estendem a mão dizendo em um silêncio ensurdecedoramente eloqüente “coitada, tão nova....”. Mas mesmo sendo a insatisfação o maior órgão do corpo humano, e a pele (que a sente) o segundo maior (pagando quieta – coitada – nossas atrocidades filosóficas), apresento-lhes minha defesa:






‎"porque metade de mim é o que eu grito mas a outra metade é silêncio."


“porque metade de mim é amor, e a outra metade também.”










E pois, apesar do que grito e do silêncio em metades e apesar das frações e do longo período de desprezo pela vida e da alma esfacelada e do coração em necrose e do cérebro cartesiano pulsante em razão e fórmulas e filosofia, uma metade de mim também é amor, como vêem. Peço que toda minha loucura (ainda que injustificável) então seja perdoada!

A vida contemporânea é delineada por um espaço muito particular para o qual migram cada vez mais os sujeitos de nossa sociedade: o não-lugar, um espaço “inqualificável". Eu mesma, ignorando os conceitos de Marc Augé.


Percam-se

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