quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Mel e limão...

Sonhei com ele essa noite e acordei com aquele gosto de ilusão que só Chico me proporciona... "Agora eu era um rei, era plebeu e era também juíz, e pelas minhas leis a gente era obrigado a ser feliz... pois você era a pricesa que eu fiz coroar e era tão linda de se admirar que andava nua pelo meu país..." Mas acordei tarde demais, e então ele já havia fugido. Ele e Chico. Assim me ponho a perguntar: como posso ser tão apaixonada por alguém com tantos calos nas mãos? Acho que é culpa de toda aquela ânsia por meu corpo e do cheiro de seu suor... obviamente por seu toque sempre bruto demais e certamente sua voz grave ao pé de meu ouvido tem lá sua parcela de culpa... Já sei! Talvez seja sua barba... isso, creio que sim, afinal por ela que meus pelos se eriçavam e espinha sentia aquele friozinho... 

Lembro-me da primeira vez de meus lábios. Sim, pois depois de tal toque, todo o resto sublimou e eu ignorei qualquer apelo da memória. Havia muita gente a nossa volta, o delicioso som dos bêbados a rir e festejar, o tilintar de copos e o estilhaçar do vidro no chão (que som lindo é esse, meus caros leitores deveriam apreciar...) e eu à mercê de tudo isso...tão confusa com todas aquelas cores e risos e sons diferentes... e no meio de tudo, como se fosse o único ponto de consciência em todo aquele belo quadro de caos, ele. Enquanto fitava-me, deixou escapar um lindo sorriso torto, sabe? Desses que saem pelo canto da boca quando o que mais queremos é permanecer sérios? Pois é, um desses... e eu me desmilinguí toda, fibra a fibra...

De repente então o caos se afastou de mim, o mundo perdeu o som! (mas suas cores ainda gritavam muito, e sem todo o barulho, os movimentos a minha volta se transformaram em um balé sem nenhuma sincronia, mas de uma beleza...), e eu olhava a volta buscando saber o que havia mudado em todo aquele quadro quando percebi sua mão em minha cintura. E vi que nada havia perdido o som, apenas minha existência inteira que concentrou-se naquele pedaço de pele e carne sob sua mão. E então eu já era dele.

E lembro-me da primeira vez que ele conheceu meu corpo. Parecia um garotinho descobrindo o sexo. Enquanto minhas roupas se espalhavam por toda a sala e escada e corredor e quarto eu divertía-me com aquela fúria em me possuir. Era como um caleidoscópio, como se visse minhas próprias feições em um outro rosto, um mais bruto e tosco, menos delineado. E então quando eu já era puramente desejo, nua, o predador foi embora, deixou seu rosto. Seus lábios se entreabriram, seus pés recuaram dois passos, seus olhos faiscavam. Tocou meus seios com as pontas dos dedos, acho que com medo de que suas mãos brutas e cheias de calo me machucassem. Vi aquele homem, tão cheio de urgência pelo meu corpo, se transformar em um menino. E como um menino ele explorou cada centímetro de carne, como se descobrisse algo novo. Lambia e sugava com a voracidade e a avidez da primeira vez e com o cuidado de um menino. Aquele empenho em me dar prazer era quase comovente!(e tenho que confessar, ele tornava impossível não testá-lo...sempre acabava pensando: e se eu cerrar os lábios, será que ele me levará ainda mais longe?) ai ai... E como resistir a deixá-lo ofegante? Limão e mel... ouvindo limón y sal enquanto emaranhávamos os lençóis de sua cama. Gozamos. Várias vezes. Ele deitou enfim, e pediu que eu deitasse sobre ele. Disse que precisava sentir todo o peso do meu corpo sobre o dele. E mesmo assim suas mãos não descançavam, continuavam a buscar pontos ainda inexplorados do meu corpo...

Com o passar do tempo esse menino tornou-se um homem e cada vez mais um homem. E então eu fui me tronando menina e cada vez menos mulher. E cada vez menos raposa.

E seus olhos um dia adiquiriram um brilho diferente e pararam de refletir a luz dos meus. E os meus então se tornaram mais ávidos por aquele brilho antigo quase extinto. E então vem ele com esse novo jeito seco. E ele sabe que eu amo esse seu jeito resignado de socialista utópico...desconfiado a me espiar pelo canto dos olhos.

Hoje, fios de cabelo me açoitando gostosamente os lábios e as bochechas me lembram ele. O sol entra fresco por todas as brechas... E então te vejo me olhando assim, por outros olhos. E me beijando exatamente assim, mas por outra boca. Tão lindo, mel e limão pelo cantinho dos olhos... ai ai.

Um comentário:

  1. Notei uma sintonia absurda entre seu texto e a minha poesia. Será coisa dos astros nos influenciando no mês de janeiro?

    Esse seu amado é um grande mistério para mim. Acho que é um típico exemplar de macho escondendo seus sentimentos do público externo. Não sei nada sobre ele. Até tentei por um tempo ser mais próximo, mas me deu preguiça. (não que ele não valha a pena, mas eu tenho preguiça de conquistar novas amizades).

    A grande verdade é que há amores impossíveis, que hão de ser muito melhores se não se realizarem...

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