Cá estou de volta. Soturna, maliciosa, cínica e voraz. Esfinge tresloucada, aquela que só devora e
não pode ser decifrada. Andróide poético que não sente nem ama, apenas reflete,
analisa, interage, quantifica. Quero olhar para tudo como que tivesse nascido
agora, agorinha. Quero é desconhecer.
Eu, que deveria saber que não há perdão para almas como a
minha, voltei ao inferno. Do lado de cá mais uma vez entendo porque sempre
desprezei a alma humana (principalmente a alheia) em função da carne. Por que
não há nada além daqui. Porque de nada, além de te poupar o lado mais divertido
da vida, te serve ter uma alma. Por que
trocas práticas (os chatos e pudicos dirão superficiais) são menos monótonas e
dramáticas, e no fim das contas te arrependerás por qualquer perda de tempo.
Feito o amor, essa invenção de péssimo gosto. A piada mais longa e mal-contada
da história do universo.
Eu prefiro a carne. Esta sim é quente, doce, palatável e de
fácil leitura. Que a alma fique para os torturados e mal-comidos metafísicos,
poetas e afins. E para a Clarice Lispector, que se encaixa em cada um desses
rótulos. Não há droga que amenize a vida, não há recompensa mais grata que a
morte. E eu voltei, com ambas negadas.
Eu voltei, e voltei tão faminta quanto hedionda. Quem sabe
não crio uma nova espécie a partir das costelas que me faltam? Sim, de volta.
Mais puta que nunca.